segunda-feira, 15 de abril de 2013

Plutarco - Bajulador - Amigo - Alcibíades - Aparência - Rousseau.

Fazendo um trabalho para a disciplina de Prática, que consiste em um capítulo de livro didático onde trato das diferenças entre o amigo e o bajulador segundo Plutarco e parte da biografia de Alcibíades me toquei que também concerne ao tema do blog essa pesquisa. Plutarco trata de Alcibíades como "o maior dos bajuladores" que já existiu. Fala isso no tratado de ética "Como distinguir o bajulador do amigo" e na própria biografia de Alcibíades.

 Primeira coisa que me importa: bajulador = aparências, interesse, amigo = sinceridade, amizade (não achei palavra melhor apesar da redundância). A vida de Alcibíades é a própria vida das aparências, da bajulação (dele para com os outros e vice-versa), da fracassada ascenção da interioridade bondade e sobriedade buscadas por Sócrates no jovem Alcibíades.E claro, muitas outras coisas, mas aqui só quero rapidamente indicar a leitura para adoradores do tema e fofocas.

Segunda coisa que me importa: Lendo a biografia de Alcibíades você percebe que quem comandou a Guerra do Peloponeso foi, basicamente, o senhorzinho boniteza. Digo, a presença dele e sua lideança e, depois, sua troca de alianças foram o que decidiu definitivamente a derrota e/ou o ganho de cada cidade durante a guerra. É impressionante. Ou seja, mostra como nada o poderia, o que Plutarco diz: que a bajulação pode derrubar reis e povos. Sim, o uso indiscreto e excessivo (para ele muitíssimo vantajoso sempre) das aparências, convenções sociais, dinheiro, etc, desse único indivíduo determinou ganhos e derrotas de povos inteiros, ascenções e fracassos de governantes,e sabe-se lá quantas vidas perdidas. Ou seja, o tema que trato aqui não é pouca coisa.

Terceira coisa que me importa: Na Nova Heloísa, de Rousseau, também é citado em uma carta Alcibíades. Da maneira como o personagem o cita com naturalidade e mais alguns indícios cá e lá, percebi que Alcibíades sempre foi, por excelência, a figura do traidor, bajulador, cretino se se quiser. Já vi referências não sei se em autores modernos, antigos ou não, do nome de Alcibíades, mas nunca levei em consideração. Agora tento me lembrar para procurar as fontes e não consigo de jeito nenhum, mas elas existem, ok??

Assim, fica recomendada aqui a leitura de dois livros do Plutarco que li de trás pra frente, de cor e salteado pra fazer o texto que utilizo no capítulo que escrevi: "Como distinguir o bajulador do amigo" (ou De adulatore) e "Vidas Paralelas: Alcibíades e Coriolano" (Coriolano é um romano cuja biografia não nos importa aqui).
Recomendo a leitura lembrando que os livros são minúsculos,o que sei que é deciviso quando se recomenda um livro: o De Adulatore da Martins Fontes tem até fotos legalas com frases do livro em letras garrafais. A biografia de Alcibíadesé um pouquinho maior mas é impossível largar. Ponto.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Metastásio


Para não encher o saco com biografias ctrl+c ctrl+v, bio ridiculamente micro, início do verbete "Metastasio" na Encyclopeia Britannica. É opcional a leitura.

Pietro Metastasio, original name Antonio Domenico Bonaventura Trapassi    (born Jan. 3, 1698, Rome—died April 12, 1782, Vienna), Italian poet and the most celebrated librettist in Europe writing during the 18th century for the opera seria*; his librettos were set more than 800 times. In 1708 his astonishing skill in verse improvisation attracted the attention of Gian Vincenzo Gravina, a man of letters who made him his heir adoptive and Hellenized his name into Pietro Metastasio.

 (*"opera seria", segundo a mesma enciclopedia: style of Italian opera dominant in 18th-century Europe. It emerged in the late 17th century.The primary musical emphasis of opera seria was on the solo voice and on bel canto, the florid vocal style of the period. Chorus and orchestra played a circumscribed role. High voices were cultivated, both in women and in the castrati, or eunuch sopranos.)



Parte que interessa:

Me chamou muito a atenção, no quesito aparência x interioridade o seguinte poema de Metastásio:

"Se a ciascun l'interno affanno
Si leggesse in fronte scritto,
Quanti mai, che invida fanno,
Ci farebbero pietà?
Si vedria che i lor nemici
Anno in seno, e si riduce
Nel parere a noi felici
Ogni lor felicità."

"Se de cada um o secreto tormento
se lesse escrito na fronte
Quantos há, que causam inveja
nos fariam pena?
Ver-se-ia que seus inimigos
têm no coração, e reduz-se
no parecer a nós felizes
toda sua felicidade."

(Metastásio, Giuseppe riconoscinto) 


     Algo que tento me lembrar sempre que possível quando invejo a felicidade e sucesso alheio: todos têm problemas. Às vezes muito piores que os nossos. Às vezes descobrimos, também, que vários daqueles que gostaríamos de ter pelo menos metade das faculdades, são pessoas detestáveis. Tenho um problema em especial com pessoas da minha idade que já têm um emprego fixo ma-ra-vi-lho-so, estão no doutorado, já leram 10 vezes mais livros que eu e, principalmente, que falam 4 ou mais línguas. A inveja não consiste em odiar a pessoa, que isso fique bem claro. Mas, sim, em odiar a mim mesma. 
    É nesse ponto que Metastasio toca nesse trecho: aqueles que invejamos, se pudéssemos realmente ver o que passa no coração deles, substituiríamos a inveja por PENA. A felicidade deles consiste no esforço constante de parecerem felizes e nos causar inveja pela sua felicidade. Não ajuda muito quando comparamos nosso insucesso com o aparente (ou real) sucesso dos outros, mas é preciso acreditar nisso. Inclusive tenho passando na minha exemplos de pessoas que conheço a quem, mais tarde, depois de certa convivência, descobri que o trecho cairia perfeitamente.

                    Quem precisa de kilos de bolo de morango quando se tem Metastásio? 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

As cartas de Saint-Preux e Júlia, e suas lições.


     Nem preciso dizer de onde vem a inspiração da minha pesquisa.
     Descobri meu interesse nesse assunto lendo "Júlia ou A Nova Heloísa", de Rousseau. Das 660 páginas que compõem o livro, o que realmente me chamou atenção e me fez bradar internamente "genial!" foram as observações críticas que o jovem apaixonado fazia em suas cartas sobre os costumes dos locais onde viajava.
     As cartas eram, por vezes, imensas. Isso porque Rousseu julgava que pessoas realmente apaixonadas não se tornam poetas que escrevem poemas curtos e ardentes. Não. Duas pessoas que se amam escrevem cartas minuciosas, longas, dignas de sua familiaridade, convivência e...amor.
     Faz 4 anos que li o livro. Não vou abrí-lo ainda para listar minhas passagens preferidas e que pretendo estudar mais atentamente. Não existe maneira melhor de resumir um livro do que enumerar suas passagens preferidas. Saint-Preux descreve as pessoas e paisagens por onde quer que passe. Assim, chamo atenção a uma carta sobre o que observou dos frequentadores da corte: os homens mudam de tom e de opinião ao dar uns poucos passos e mudar o grupo com quem mantém conversa. às vezes opiniões contrárias, de maneira que é impossível saber o que a pessoa realmente tem em mente. se é que tem algo além do desejo de agradar. Voltarei a esse assunto em outra postagem.
     Me impressionou muito a questão da vestimenta das mulheres da corte - e, portanto, das mulheres "do povo" - onde Saint-Preux diz que, em prol de "não serem imitadas, imitam as prostitutas". Me veio instantaneamente a imagem de certas celebridades hollywoodianas. A roupa diz respeito à imagem que se quer passar de sua personalidade aos outros, que tipo de sentimento quer despertar naqueles com quem se encontra. Uma dama vestir-se com grandes decotes me parece um tiro no pé.
     Também me apaixonei pela passagem onde Saint-Preux interrompe a conversa com Júlia ao ver que seu marido entra no cômodo. Júlia pede para que continue, pois que neste quesito as paredes da casa são inexistentes. Lá não se diz nada que não possa ser ouvido por todos. Não existe modelo maior de pureza.
     Última passagem, para não ter apenas repetições na minha tese do que já disse aqui . Júlia conta a Saint-Preux que educa seus filhos não de forma a se sentirem orgulhosos por terem criados que os vistam, os banhem e que estejam a seu dispor, mas, sim, que sintam vergonha por não poderem realizar aquelas atividades por si mesmos. Como evitar a arrogância da nobreza, não?

                É impossível não se apaixonar por Rousseau.